sexta-feira, 25 de outubro de 2013

POESIAS DE OUTUBRO - DIA 25


ADÉLIA  PRADO


ARQUIVO GOOGLE



"Adélia Luiza Prado de Freitas nasceu em 1936 em Divinópolis-MG, onde cresceu e se educou. Formou-se em Filosofia e trabalhou como professora. Em 1971 publicou o livro de poemas “A Lapinha de Jesus”, junto com Lázaro Barreto. Cinco anos depois foi que publicou sozinha seu primeiro livro, Bagagem (1976), revelando uma artista de extrema originalidade e lirismo..."

É ENCANTADORA A OBRA DE ADÉLIA E, MESMO QUANDO EM PALAVRAS UM TANTO VULGARES, FAZ DELAS TÃO PERFEITO USO QUE AS TORNA LEVES E PURAS! CAÍ-ME DE ENCANTAMENTO COM PELOS POEMAS DA MINEIRINHA, TÃO HÁBIL EM INSERIR O LEITOR NO CONTEXTO DAS PEQUENAS CIDADES INTERIORANAS, TÃO DO MEU AGRADO. AO CONTRÁRIO DA MAIORIA DOS POETAS BRASILEIROS, PREFERE  FAMÍLIA COMO TEMA, NÃO AMANTES E AMORES. MAS QUANDO OS FOCA É DE FORMA PERFEITA E ÍMPAR!



O alfabeto no parque



Eu sei escrever.

Escrevo cartas, bilhetes, lista de compras,

Composição escolar narrando o belo passeio

À fazenda da vovó que nunca existiu

Porque ela era pobre como Jó.

Mas escrevo também coisas inexplicáveis:

Quero ser feliz, isto é amarelo.

E não consigo, isto é dor.

Vai-te de mim, tristeza, sino gago,

Pessoas dizendo entre soluços:

“não aguento mais”.

Moro num lugar chamado globo terrestre

Onde se chora mais

Que o volume das águas denominadas mar,

Para onde levam os rios outro tanto de lágrimas.

Aqui se passa fome. Aqui se odeia.

Aqui se é feliz, no meio de invenções miraculosas.

Imagine que uma dita roda-gigante

Propicia passeios e vertigens entre

Luzes, música, namorados em êxtase.

[...]

Com perdão da palavra, quero cair na vida.

Quero ficar no parque, a voz do cantor açucarando a tarde...

Assim escrevo: tarde. Não a palavra. (A coisa. -PRADO, 1991, p. 260)



“Códigos”

O perfume das bananas é escolar e pacífico.
Quando mamãe disse: filha, vovô morreu, pode falhar de aula,
eu achei morrer muito violoncelírico.
Abriam-se as pastas no começo da aula,
os lápis de ponta fresca recendiam.
O rapaz de espinhas me convocava aos abismos,
nem comia as goiabas,
desnorteada de palpitações.
Filho-da-puta se falava na minha casa,
desgraçado nunca, porque graça é de Deus.
No teatro ou no enterro,
o sexofone me põe atrás do moço,
porque as valsas convergem, os lençóis estendidos,
abril, anil, lavadeira no rio,
os domingos convergem.
O entre-parênteses estaca pra convergir com mais força:
no curso primário estudei entusiasmada o esqueleto humano da galinha.
Quero estar cheia de dor mas não quero a tristeza.
Por algum motivo fui parida incólume,
entre escorpiões e chuva. 
(O coração disparado, Nova Fronteira - 1978 )



  ( NÃO  RESISTI . . . TROUXE DUAS )




E SE VOCÊ QUISER PASSEAR PELOS POSTS DESTA SÉRIE É SÓ CLICAR NO MENU À ESQUERDA EM "GAVETAS TEMÁTICAS". A GAVETINHA "POESIAS DE OUTUBRO". VAI LEVAR-LHE EM PASSEIO POR ELES, UM ATRÁS DO OUTRO, ATÉ CHEGAR NO PRIMEIRO !

Um comentário:

  1. Oi, Leonor!
    Como é bom ver blogs disseminando poesias, lindas leituras e uma escritora de peso como Adélia Prado que nunca deve ser esquecida.
    Eu adoro esta escritora e percebo nela um modo de dizer as coisas do cotidiano com pitadas de poesia e romantismo, mas sempre direta, às vezes desconcertante, mas adoro!
    beijos cariocas


    ResponderExcluir

A D O R O O O...OBRIGADA !